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terça-feira, 2 de agosto de 2016

O golpe de Estado e suas consequências: lutar contra a reação e construir o Partido Comunista

 
Introdução

Nós, da União Reconstrução Comunista, destacamos desde nossa fundação que a política de conciliação de classes e de administração dos interesses das classes dominantes, realizada pelo Partido dos Trabalhadores (PT) em seus governos com Lula e Dilma, foi o principal catalisador que levou ao cenário atual, no qual a reação avança raivosamente contra o débil governo petista interna e externamente, até a situação atual do Golpe de Estado via impeachment.

O circo montado em torno do processo de impedimento da presidente eleita em 2010 demonstra o fracasso político e histórico do PT, e seu descarte, por parte das classes dominantes submissas aos interesses do imperialismo estadunidense, que, após suas ações deploráveis no Oriente Médio e África, agora lança sua ofensiva contra os povos da América Latina. O contexto da crise do sistema capitalista-imperialista a nível mundial leva à intensificação da agressão do imperialismo norte-americano sobre os recursos estratégicos dos países dependentes, como aconteceu na Líbia de Kaddafi e o que gerou a agressão indireta e direta que se estende até hoje na Síria de Bashar Al Assad. Contra a América Latina – região estratégica e tradicional “quintal” do imperialismo norte-americano –, este, na última década, avançou contra governos nacionalistas burgueses que, em algum sentido, agiram de forma contrária à lógica neoliberal que imperou na última década do século XX. Os governos de Hugo Chávez e Nicolas Maduro na Venezuela, bem como o de Evo Morales na Bolívia, sofrem há anos guerra de desestabilização, e mesmo governos moderados como os de Manuel Zelaya em Honduras e Fernando Lugo no Paraguai foram derrubados por manobras jurídicas e legislativas.

O recrudescimento da crise do sistema imperialista mundial faz com que a aplicação do programa de austeridade, às custas do sangue e suor do povo brasileiro, seja uma necessidade urgente para o sistema imperialista, daí a troca de um governo que cumpriu nos últimos anos boa parte das medidas, mas que tem ligações com movimentos de massas, por um que aplique um programa neoliberal puro sangue, que faça o serviço que é preciso fazer para salvaguardar os interesses do capital financeiro e do agronegócio estrangeiros que dominam o país. A chegada de Michel Temer ao poder é mais um passo neste sentido.

Ruptura com o pacto conciliador e com a legalidade para se agravar a ofensiva do Imperialismo

Devido ao agravamento da ofensiva reacionária após o início do exercício do novo governo de Michel Temer, a realidade demanda que se desmascare o caráter entreguista, fascista e vende-pátria deste, bem como elucidar às massas e aos movimentos populares as verdadeiras razões de o PT ter sido descartado como administrador dos interesses das reacionárias classes dominantes brasileiras no governo, inclusive para, a partir daí, construir uma tática e estratégia corretas para confrontar este partido reformista e oportunista. Primeiramente, deve-se avaliar a inter-relação entre o processo golpista – enquanto uma quebra da própria legalidade burguesa por parte da grande burguesia –, e a crise mundial do capitalismo-imperialismo e o papel do Brasil nestes.

A conjuntura internacional, como já foi falado, é marcada pelo aprofundamento da crise mundial do imperialismo, com o ano de 2015 registrando a maior queda no comércio internacional desde 2008, bem como derrocada deflacionária atingindo de modo forte principalmente a Alemanha e o Japão, com os Estados Unidos tendo seu setor financeiro apresentado queda de  mais de 10 pontos percentuais, mostrando evidências de que a taxa de lucro neste país cairá rumo ao precipício. Sob este panorama, os grandes monopólios dos países imperialistas buscam sugar as economias dos países semicoloniais da Ásia, África e América Latina, submetendo-os a um programa neocolonial, para conseguirem se opor à tendência geral da queda da taxa de lucro das economias capitalistas desenvolvidas e salvá-las, lançando ofensivamente contra o elo débil da cadeia imperialista. Aspecto importante disso foi a criação de acordos comerciais por parte dos Estados Unidos, como o TPP (Trans-Pacific-Partnership Agreement), TTIP (Transatlantic Trade and Investment Partnership) e TISA (Trade in Services Agreement). Tais acordos fazem parte de uma estratégia geral de opressão imperialista, e mesmo Obama não esconde os interesses por trás de tais acordos: “a construção de muros para nos isolarmos da economia global somente nos priva das incríveis possibilidades oferecidas por ela. Ao contrário, a América deve escrever as normas da economia mundial. A América deve dar ordens. Outros países devem jogar segundo as regras estabelecidas pela América e nossos parceiros, e não o contrário. Isso é o que o TPP nos dá o poder de fazer.”

No Brasil, o governo do PT levou a cabo, ainda que de maneira gradual, importantes medidas liberalizantes que entravam em acordo com o programa imposto para os países periféricos pelo imperialismo norte-americano, tanto na manutenção do tripé macroeconômico (manutenção da meta de inflação, do superávit primário e o regime de câmbio flutuante) como em determinadas privatizações, e, também, na aplicação do ajuste fiscal. No entanto, o caráter de classe pequeno-burguês do PT considerava possível ser realizada determinada política que beneficiava conjuntamente os interesses das classes dominantes e os interesses das massas populares, parte destas organizadas em seu partido. Foi justamente a política de conciliação de classes que se deu esgotada, e que tornava não mais possível que fosse o governo do PT o representante dos interesses das classes dominantes. 

A deterioração do capitalismo-imperialismo é tamanha que um programa de integração violenta e forçada das cadeias produtivas domésticas à cadeia mundial (o que quer dizer desnacionalização em massa) e uma política de ataque às massas populares para agravar a superexploração das massas trabalhadoras dos países semicoloniais não pode mais ser levada a cabo de forma gradual. O método da burguesia que Lenin chamava de “período do método liberal da burguesia”, onde reinam as concessões ao movimento popular e políticas de apaziguamento das lutas de classes (inclusive, Lenin enfatiza que este período é onde mais cresce o oportunismo no seio do movimento operário) deve dar lugar ao método da coerção, com um programa plenamente neoliberal que não deve ser aplicado mais gradualmente, e um partido pequeno-burguês, enraizado no movimento popular, deve dar lugar a um representante direto das classes dominantes mais reacionárias. Deve-se ter em mente que a grande burguesia sempre tenderá a romper com a legalidade caso seja necessário para ela. Foi o que se passou no processo de impedimento de Dilma Rousseff, o que representou a ruptura com o pacto de conciliação inaugurado nos governos petistas.

Com a entrada em cena do governo radicalmente pró-imperialista de Michel Temer, criam-se as condições, seguindo os passos feitos na Argentina, para a aplicação plena deste programa, atacando nossa indústria nacional, aumentando a concentração de terras improdutivas no campo, apoiando-se no latifúndio tanto de velho como de novo tipo, reprimindo duramente quaisquer ações dos movimentos de massas no campo e na cidade, agravando a superexploração da classe operária, concretizando o desmonte da Petrobrás, etc. O principal documento que o PMDB apresentou à grande burguesia para se mostrar como representante direto da submissão ao imperialismo norte-americano, o “Ponte para o Futuro”, expressa interesses de levar adiante as reformas neoliberais radicais que o PT não conseguiria fazer, como a aplicação generalizada no regime de concessão na exploração do petróleo do pré-sal, a “reforma” na Previdência Social (o que, no limite, significa transferir sua gestão atual para os grandes bancos internacionais), privatização gradual da educação e da saúde, e por aí se segue.

O primeiro ato do reacionário Governo Temer, já em seu primeiro dia, parte desta mesma lógica. Foi a criação da MP (Medida Provisória) 727, que cria o Programa de Parcerias de Investimentos. Esta MP é na verdade uma continuidade do Programa Nacional de Desestatização (inclusive afirmando isso textualmente), institucionalizando o processo privatista através de um sistema de concessões. Nisso, o processo privatista fica submetido meramente a cargo dos beneficiários da compra, e o BNDES deve auxiliar a iniciativa privada a partir de um fundo especial criado para isso! É a primeira ação visando o desmonte da coisa pública. Coloca-se junto a isto a nomeação de Maria Silvia Bastos Marques como presidente do BNDES, a mesma que assessorou o desmonte antinacional de FHC nos anos 90. Recentemente, foi aprovada a MP de liberação de participação do capital estrangeiro nas companhias aéreas brasileiras em 100%. A proposta das terceirizações, em trâmite no Congresso, que deverá aumentar a flexibilização das leis trabalhistas, aumentar a extensão do trabalho informal, atacando as condições de trabalho já precárias, faz parte do programa geral de nivelar nossos salários cada vez mais para o abismo.

A luta popular contra o avanço da reação e o avanço da consciência das massas

Permitamo-nos fazer uma comparação (ainda que comparações históricas dificilmente sejam exatas, e as conjunturas sejam bem diferentes) com o golpe de 1964. Anteriormente ao golpe de abril de 64, com as tentativas dos militares de evitar a posse de Jango como Presidente do Brasil após a renúncia de Jânio Quadros, Leonel Brizola organizou a partir de transmissões de Rádio uma imensa mobilização de massas, inclusive com formação de grupos populares armados, contra este golpe das forças armadas, processo este que ficou conhecida como “campanha da legalidade”. O trabalhista Paulo Schilling, antigo assessor de Brizola, que participou também da campanha, avaliou, contudo, que a mesma acabou assumindo um duplo caráter. Segundo ele, foi uma palavra de ordem justa, na situação de quebra da legalidade promovida pelos militares. No entanto, por ser uma bandeira ampla, acabou aglutinando gradualmente não mais apenas os operários, democratas progressistas, a pequena burguesia e o campesinato. Acabou por organizar também setores da grande burguesia e do latifúndio, coronéis do alto escalão do exército, fazendo com que a palavra “legalidade” fosse usada por vezes até pelos próprios inimigos políticos, se passando oportunisticamente para o lado das forças democráticas, assim obstaculizando o uso da situação para se dar saltos revolucionários e avançar a consciência das massas nesse sentido.

Ocorreria exatamente o contrário, com a palavra de ordem da legalidade cumprindo um papel de entrave na consciência revolucionária das massas, onde qualquer tentativa de se fazer dar saltos qualitativos no movimento era vista como quebra da legalidade. Com isso, mesmo Brizola falhou ao organizar a partir do Movimento dos Agricultores Sem-Terra um levante camponês no interior do Rio Grande do Sul. A palavra de ordem da legalidade faria abortar qualquer saída mais “radical”.

Hoje, em alguma medida, pode-se fazer um paralelo com a palavra de ordem da “defesa da democracia”, usada majoritariamente para se opor ao golpe de Estado. Se, de certa forma, quando se enfatiza esta questão, pode se colocar implicitamente até mesmo uma crítica à democracia burguesa, apontando para o fato de que a burguesia sempre irá romper com a legalidade, com o uso das instituições para se atender interesses escusos, do outro lado, também se impõe uma barreira entre qual caráter o movimento contra o golpe deve tomar, e isto também é, como foi durante a Campanha da Legalidade, um regresso na consciência de classe dos trabalhadores brasileiros. A única forma pela qual se pode fazer ser vitorioso o movimento antigolpista é fazendo com que o proletariado e as massas populares tornem-se suas forças hegemônicas, submetendo até mesmo as ações legalistas antigolpe sob sua direção, e não o oposto. Nisso, é necessário dar um caráter indissociável da luta contra a ofensiva reacionária golpista com as lutas imediatas da classe operária e das massas, bem como das mais diversas reivindicações democráticas. Por esta razão, a CUT, por exemplo, apenas pode realmente levar uma política consequente contra o governo Temer (mesmo chamar uma greve geral, como decidiu), e principalmente no que tange à mobilização de suas bases, caso se volte atrás no apoio ao patronal Programa de Proteção ao Emprego e demais vacilações dentro do movimento operário. Não se trata de rejeitar uma frente que una os mais amplos setores democráticos em defesa da legalidade, pelo contrário. Trata-se de estabelecer quem dirige esta frente e quem aglutina estes amplos setores. Apenas assim tal frente pode ser vitoriosa na luta contra o golpe, dando a ela seu devido caráter de classe.

Nisso, é necessário fazer com que a luta antigolpista esteja umbilicalmente ligada às lutas imediatas da classe operária e outros setores das massas populares. Organizações de massas dos trabalhadores, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), só pode realmente levar a cabo uma política consequente contra o golpe de Estado e o novo governo pró-imperialista de Michel Temer caso se volte atrás no apoio ao patronal Programa de Proteção ao Emprego e outros programas do mesmo gênero. Só assim será possível mobilizar adequadamente as bases que sustentam sua atividade, dando a ela o seu devido caráter de classe. Outras organizações de massas, como o MST, MTST, UNE, etc., também podem aqui cumprir um importante papel, ainda que tais organizações sejam guiadas por posições reformistas, revisionistas e oportunistas. Daí decorre a necessidade de se fazer um correto trabalho de intervenção conjunta com tais movimentos, buscando isolar os seus setores mais oportunistas e ganhar para as posições do marxismo-leninismo os seus setores mais avançados.

O desmonte da Petrobras

No que diz respeito ao petróleo da camada do pré-sal, os golpistas querem fazer deste um dos principais prêmios aos monopólios petrolíferos estrangeiros. O Governo Temer não perdeu tempo em anunciar, bem como em agir, no sentido de acelerar e aprofundar a entrega desta inestimável riqueza não-renovável para as grandes potências capitalistas. Já em suas primeiras entrevistas e declarações ao assumir a presidência, afirmou que apoiaria iniciativas para acabar com a obrigatoriedade de a Petrobras ser sócia de pelo menos 30% de todos os consórcios do pré-sal, bem como operadora única dos poços produtores.

Temer também anunciou Pedro Parente como novo presidente da Petrobras, nome que foi saudado pela grande mídia como alguém de confiança do “mercado’’, alguém que seria incumbido de “limpar” a estatal do estigma da corrupção e das ingerências. O mesmo Pedro Parente que faz parte de um seleto grupo de ex-ministros do então presidente Fernando Henrique Cardoso que respondem processos por improbidade administrativa referente a um processo de resgate de bancos privados em falência, o que custou mais de R$ 2 bilhões aos cofres públicos na época. 

Parente possui também em seu currículo uma passagem por cargos da Petrobras. Ocupou o Conselho Administrativo quando ministro de FHC, de 1999 a 2002, e lá ajudou a aprovar uma série de medidas privatistas e comprovadamente prejudiciais para a empresa. Entre elas, o aumento da abertura de capitais, a venda da Refinaria Alberto Pasqualini (Refap) e a vergonhosa mudança do nome da Petrobras para Petrobrax - medida que fora símbolo da tentativa tucana de privatização e que suscitou forte resistência dos petroleiros e demais trabalhadores, obrigando-os a recuar.

Atualmente, desta vez sob a tutela do novo governo golpista, retomam-se as tentativas de entrega da nossa principal estatal e Pedro Parente e Michel Temer declaram apoio direto ao Projeto de Lei 4567/16, em trâmite no Congresso Nacional e que abre a possibilidade da entrega total do petróleo do pré-sal aos monopólios imperialistas. Os deputados da base do governo golpista realizam uma série de abusos e irregularidades para acelerar o processo de aprovação da PL no Congresso Nacional. A Comissão Especial da Petrobras na Câmara, que avaliaria as vantagens e desvantagens da proposta, ignora os argumentos das entidades sindicais e aprovou em uma reunião que havia sido anteriormente adiada – em manobra clara para desmobilizar os petroleiros que pretendiam pressionar os deputados um parecer favorável à aprovação da lei.

Soma-se a isso outros ataques profundos contra a Petrobras, através do Programa de Desinvestimentos iniciado por Bendine e aprofundado por Parente. Os alvos da vez são as subsidiárias de logística, armazenamento e distribuição – a Petrobras Logísticas S.A. e a Transpetro. Se considerarmos que todas as grandes empresas de petróleo do mundo hoje são empresas integradas – como se diz, do poço ao posto – as duas subsidiárias em questão são vitalmente estratégicas para a sobrevivência da Petrobras como estatal de envergadura, capaz de competir com as gigantes do setor privado pelo mundo, além de desenvolver e dinamizar a indústria nacional.

Segundo a tese de doutorado do economista Marcelo Sartorio Loural, a Petrobras foi responsável por R$ 90 bilhões em investimentos produtivos no Brasil (entendido pelo economista como investimento que gera uma estrutura produtiva perene e um incremento na capacidade de produção) no ano de 2013. Isso equivale ao dobro do que foi investido pela Vale e outras 72 empresas somadas - que investiram, respectivamente, R$ 25 e 20 bilhões no mesmo ano. O economista também aponta que a Petrobras dinamiza uma série de cadeias produtivas - como a naval e a de maquinaria e equipamentos - e que os programas de cortes de gastos da empresa puxam para baixo todo o quadro de investimentos produtivos no país.

Serra e o servilismo ao Imperialismo

A camarilha entreguista do governo reacionário de Michel Temer também coloca como prioridade a degradação das relações Sul-Sul, e de se relegar ao Brasil o papel de submissão e servilismo ao imperialismo norte-americano na política externa, fato já evidenciado na ascensão de José Serra (PSDB) ao Ministério das Relações Exteriores, bem como no giro político ali dado. O entreguismo do cacique tucano já é célebre. Em um telegrama diplomático de 2009, revelado pelo Wikileaks, Serra já havia demonstrado suas relações com o imperialismo estadunidense, ao dar garantias à diretora de Desenvolvimento de Negócios e Relações com o Governo da petroleira Chevron sobre a exploração do pré-sal; afirmava então “deixa esses caras [do PT] fazerem o que eles quiserem. As rodadas de licitações não vão acontecer, e aí nós vamos mostrar a todos que o modelo antigo funcionava... E nós mudaremos de volta”.

Em poucos meses seguidos ao golpe, já se indicou o caminho de se aproximar, dentro da América Latina, da Argentina de Macri (outro dos focos da ofensiva imperial recente na América Latina), e se defendeu mudanças no Mercosul, “rompendo com suas barreiras ideológicas para se tornar um bloco mais comercial”, defendendo uma associação com a Argentina para se efetuar tais medidas: trata-se de criar as condições para se retomar um projeto de ofensiva imperial para a América Latina aos moldes da ALCA de Bush. 

A guinada com a nomeação de Serra vai ao encontro dos interesses estadunidenses na América Latina. O tom da resposta do Itamaraty sob novo comando ao rechaço da Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (Alba) e de Venezuela, Cuba, Bolívia, Equador e Nicarágua ante o golpe perpetrado em nosso país, demonstra a quem servirá o novo chanceler. Uma das medidas efetivas da atuação contra os governos progressistas latino-americanos foi a tentativa de impedir que a Venezuela assumisse a presidência do bloco, como era previsto, e que acabou por ser rechaçada pelo Uruguai, que ocupava o posto até então.

Reação contra os camponeses e povos originários

Como já apontamos em artigo mais extenso em nosso site NOVACULTURA.info, desde o Governo Dilma já se havia ampliado os ataques aos direitos dos povos do campo, como os cortes nas verbas do MDA, INCRA, congelamentos em reajustes do Bolsa Família, paralisia em assentamentos de famílias de camponeses sem terra, entre outros, frente aos quais as famílias camponesas, em geral muito pobres e com uma ligação parca com o mercado interno (tanto no sentido produtivo quanto consumidor), sofrem drasticamente com cada oscilação nestas questões. O Golpe de Estado reacionário e a usurpação do governo pela camarilha entreguista de Temer, visa, exatamente, aprofundar os ataques aos já moribundos direitos dos camponeses e dos povos originários.

Desde antes mesmo do afastamento de Dilma e prevendo-se uma eventual emergência de um governo Temer, a “Frente Parlamentar Agropecuária” elaborou um documento que viria pressioná-lo a empregar as Forças Armadas reacionárias para a repressão de revoltas camponesas. Quando fazendeiros, em geral, requisitam a presença de braços armados do Estado burguês na repressão aos movimentos camponeses (em lugar de seus pistoleiros ou grupos paramilitares organizados), são as polícias a nível estadual quem realizam o trabalho repressivo, e somente em ocasiões excepcionais, até então, a Força Nacional de Segurança Pública era chamada para o “trabalho sujo”.

Pelo fato de o trabalho no campo ser reconhecido como extremamente penoso, insalubre e desgastante, os trabalhadores rurais possuem aposentadorias especiais, onde as mulheres podem se aposentar aos 55 anos, e os homens aos 60. Michel Temer, em seu governo, como já foi mostrado em diversos documentos e/ou entrevistas, pretende aumentar para 65 anos a idade mínima da aposentadoria rural tanto para homens quanto para mulheres. O Governo Temer restringirá o benefício Bolsa Família apenas para os 5% da população mais pobre do país (conforme palavras do documento “Travessia Social”, que expõe a visão do PMDB para programas sociais), em lugar do programa atual que focaria nos “40% mais pobres”. Desta maneira, quase 40 milhões de beneficiários perderiam acesso ao programa, sendo jogados mais uma vez na miséria, abandono e fome crônica.

Pretende-se fechar a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), responsável pelo PAA (Programa de Aquisição de Alimentos), levando à precariedade quase completa, a nível nacional, da comercialização da produção camponesa; O Governo Temer, em sua recomposição ministerial, dissolveu o Ministério do Desenvolvimento Agrário no Ministério da Agricultura, como há muito queriam os ruralistas. Em menos de uma semana de governo, outro grande ataque sobre os direitos dos povos do campo foi a transferência da política de regularização de territórios quilombolas do INCRA para o novo Ministério da Educação e Cultura. Já fora velha demanda dos movimentos quilombolas transferir ao INCRA a atribuição de regularizar território quilombolas, demanda conquistada durante o Governo Lula. Tendo se tornado mais uma vez atribuição do Ministério da Educação e da Cultura, a demarcação de territórios quilombolas estagnará de vez, num ministério que não possui pessoal técnico, estrutura ou capacidade para lidar com a questão.

Temer revisará todas as demarcações de terras indígenas e desapropriações feitas pelo Governo Dilma, sob pressão da bancada ruralista. Desta maneira, até mesmo as migalhas feitas por Dilma como os 25 decretos de 1º de abril de 2016, que regularizam e desapropriam cerca de 56 mil hectares de terras em vários estados para o assentamento de famílias camponesas e reconhecimento de territórios quilombolas, não terão mais qualquer efeito. O Governo Temer concluirá de vez a velha “luta” da claque feudal de flexibilizar o conceito de trabalho escravo – “diferenciando-o” do que seria um trabalho insalubre, esgotador e mantido pela força de ameaças – e garantindo de vez a impunidade das empresas e fazendeiros que se utilizarem desta artimanha pré-capitalista. Sob o comando do ministério de Blairo Maggi, o “rei da Soja”, que substitui no cargo Kátia Abreu, então presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), se se recrudescerão ainda mais os ataques às massas camponesas, afundando-as cada vez mais na miséria e na fome, uma das condições básicas para a manutenção da dominação dos coronéis, ruralistas e latifundiários.

Aumento da repressão nas periferias urbanas e ataque aos movimentos populares

Na composição do seu governo, Temer entregou a pasta da Justiça a Alexandre Moraes, seu antigo pupilo político, para que siga o que fez à frente da Secretaria Estadual de Segurança Pública do Governo de Geraldo Alckmin (PSDB).

Em fevereiro deste ano, a Secretaria de Segurança paulista tornou sigilosos por 50 anos todos os boletins de ocorrência registrados pela polícia em São Paulo, assim como foram classificados como secretos também os manuais e procedimentos da Polícia Militar de São Paulo, após a ampliação das inúmeras denúncias da imprensa (principalmente a independente) sobre o papel letal da atuação policial em São Paulo.

E o alvo principal da ação violenta do aparelho de violência do Estado paulista recai sobre as classes pobres, sobretudo entre seus jovens e negros. Em 2015, durante sua gestão, a polícia foi responsável por 1 a cada 4 pessoas assassinadas na cidade.

Os movimentos de massas e manifestações políticas também foram seu alvo durante sua gestão no Governo de Alckmin. Durante as manifestações do Movimento Passe Livre no início do ano, o então Secretário reforçou a ação repressiva da PM, chegando a utilizar inclusive blindados israelenses para dispersar protestos. Também fez lobby contra o projeto de lei aprovado pela Assembleia Legislativo de São Paulo que proibia o uso de bala de borracha pela polícia contra manifestações.

Em sua posse no Governo golpista, Moraes demonstrou sua clara e manifesta intenção de ampliar a criminalização dos movimentos de massas. Ao ser questionado sobre as manifestações, afirmou que “como todo movimento social, o MTST [Movimento dos Trabalhadores sem Teto] tem todo o direito de se manifestar. Mas o MTST, ABC ou  ZYH serão combatidos a partir do momento em que deixam o livre direito de se manifestar para queimar pneus, colocar em risco as pessoas, que são atitudes criminosas”. E isto não é apenas uma declaração. Quando ainda ocupava o cargo no Governo Alckmin, Moraes fez uma consulta ao Procurador Geral do Estado de São Paulo, Elival Ramos, sobre a possibilidade de execução de reintegração de posse de imóveis públicos ocupados sem a necessidade de que se siga o rito no Judiciário para tal. O argumento foi justamente de que a discussão jurídica atrasa a recuperação da posse e traz prejuízos ao governo, uma vez que os motivos destas manifestações comumente são políticos.

Somando-se estas orientações ao comando federal do aparelho repressivo do Estado, que se demonstra há anos claramente nas ações no campo na defesa dos interesses dos latifundiários e durante os mega-eventos, como será o caso próximo das Olimpíadas na cidade do Rio de Janeiro, com as diversas violações aos direitos básicos da população fluminense, principalmente nas áreas das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), o cenário que se coloca é de aprofundamento da criminalização dos movimentos de massas organizados e da ampliação da violência contra os mais pobres do país.

A luta contra o golpe e o revisionismo

Não podemos deixar de abordar o problema do golpe de Estado sem abordarmos o problema do revisionismo. Como já foi constatado em vários documentos da União Reconstrução Comunista e de seus veículos de comunicação, o atual “Partido Comunista do Brasil” (PCdoB) se configura como a principal agremiação revisionista do país. No atual momento, o revisionismo propagado pelo PCdoB possui um caráter ainda mais reacionário que o reformismo petista e toda sua ideologia pequeno-burguesa conciliadora. O PCdoB controla uma central sindical (a Confederação dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil - CTB) e, por meio de sua organização de jovens (UJS) dirige a maior entidade estudantil do país (União Nacional dos Estudantes – UNE). Durante os vários anos de governos petistas, a atuação deste partido se caracterizou pela defesa total destes governos, até mesmo quando diversas medidas antipopulares foram aplicadas, como o caso do aval que o partido deu para a aprovação da Reforma da Previdência ainda em 2005. Depois, por meio de um dos seus principais dirigentes, Aldo Rebelo, o partido revisionista foi um árduo defensor de mudanças no Código Florestal, apenas para citarmos algumas práticas abertamente oportunistas de tal organização.

O PCdoB também chegou ao cúmulo de defender o leilão do campo de Libra, alegando que esta seria uma medida benéfica para a soberania do país. No período recente, ainda que o partido tenha tomado parte de forma demagógica na luta contra o golpismo, sempre o fez levantando as bandeiras mais direitistas e conservadoras. Dentre as agremiações brasileiras que se reivindicam comunistas ou de esquerda, é precisamente o PCdoB quem se coloca como o principal defensor da realização de novas eleições, medida esta que teria como uma das suas consequências diretas a legitimação do golpe de Estado aplicado pelos setores mais reacionários das classes dominantes. No âmbito da crise política nacional, o PCdoB defende a realização de um plebiscito que supostamente decidiria pela convocação ou não de novas eleições para presidente. Tal posição reacionária é colocada pelo oportunismo como uma “sacada genial”, “realpolitik”, mas que esbarra num fator fundamental que é a existência de um golpe de Estado em curso. Se estamos falando num golpe de Estado, é evidente que, dentre as consequências que este produzirá, uma delas será inevitavelmente o controle de qualquer eleição então realizada pelas forças pró-golpe, que dominam já quase inteiramente todas as esferas do Estado reacionário brasileiro.

Se até mesmo antes do Golpe as eleições burguesas já poderiam ser consideradas como um jogo de cartas marcadas, atualmente esta característica básica da falsa democracia brasileira é desnudada ainda mais. Segundo o PCdoB, um dos objetivos do plebiscito seria o de “restaurar a democracia”, que fora teoricamente usurpada pelo golpe de Estado. É certo que o golpe de Estado aprofunda no país uma situação que afasta-nos ainda mais tudo o que se assemelhe à democracia, o que não decorre, contudo, que no período anterior ao golpe esta democracia já existia. O mínimo que um partido pretensamente Marxista-Leninista deveria fazer – em tal situação – seria apontar de maneira clara para as massas sobre o real significado da democracia burguesa, e não falar em democracia de maneira abstrata, nutrindo ilusões com uma democracia pura, sem um caráter de classes. Não se pode mesmo esperar muito, de fato, de um partido que há muito tempo abandonou o Marxismo-Leninismo em nome do que existe de mais podre produzido pelas correntes revisionistas e oportunistas a nível doméstico e internacional, como apologias à chamada “democracia como valor universal”.

Como se não bastasse, durante a última semana o PCdoB se destacou na Câmara dos Deputados como um dos principais articuladores da campanha do arquirreacionário e golpista deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ) para a presidência da Casa. Esta manobra feita pelos caciques do PCdoB deixaria até mesmo os elementos mais oportunistas da velha Segunda Internacional de cabelo em pé, dado tamanho cretinismo parlamentar. Segundo os “sábios” políticos do PCdoB, votar em Rodrigo Maia para a presidência da Câmara contribuiria para derrotar o chamado “centrão” e, assim, criar condições mais favoráveis para lutar contra o Golpe no parlamento. Só esquecem nossos sábios do oportunismo que Rodrigo Maia é representante da ala mais direitista dos golpistas e sua vitória necessariamente só pode fortalecer os próprios golpistas. Os “sábios” do oportunismo e do revisionismo só contribuem para desmoralizar perante as massas todos aqueles que lutam contra o golpe de Estado. É extremamente importante que os setores ainda conscientes do PCdoB, que ainda defendem o Marxismo-Leninismo, mas que pelos mais variados motivos ainda seguem militando no partido revisionista, tomem consciência do caráter desta organização e se coloquem decididamente no caminho da reconstrução/reconstituição do genuíno Partido Comunista do Brasil.

Conclusão

O que entra em jogo para os movimentos populares neste momento é o estabelecimento de uma unidade de todas as forças progressistas contra os interesses reacionários do governo golpista de Michel Temer, bem como a definição de tática e estratégia corretas para se levar a cabo uma luta consequente contra o golpe, compreendendo que o golpe faz parte de uma escolha da necessidade de ruptura por parte das classes dominantes para conseguir eleger seu governo “puro-sangue”, dando fim à sua colaboração de classes com o petismo. Nesta situação, afirmar a luta consequente contra o golpe deve implicar em por um termo às ilusões com a democracia burguesa, institucionalismos em geral e decisões legalistas de cúpula, como meios de se encontrar respostas para os problemas das massas populares.

Apenas a unidade dos movimentos de massas em torno de uma plataforma política que combine a luta antigolpe e contra a ofensiva reacionária com um programa mínimo de reivindicações populares, pode dar o caminho correto para a resistência aos futuros ataques que virão. O movimento comunista não pode atuar alheio a isso, e é um erro crasso achar que são meras contradições interburguesas, quando o plano é submeter todo o movimento operário e o povo a uma ofensiva geral de um programa antipovo e antinação. Tal é a situação oriunda da debilidade do movimento revolucionário e, por conseguinte, da ausência de um partido revolucionário que fosse marcado pela base de massas, e a reconstrução do Partido Comunista sob uma sólida base ideológica Marxista-Leninista apresenta-se como a tarefa fundamental para a reorganização do movimento popular.

O movimento comunista deve trabalhar contra isolacionismos, pela atuação no seio das massas trabalhadoras, do campo e da cidade, pela defesa intransigente de seus interesses, e promover a contraofensiva ante os grandes capitalistas e latifundiários ligados ao Imperialismo."

UNIÃO RECONSTRUÇÃO COMUNISTA

domingo, 1 de maio de 2016

NOVACULTURA.info: um ano


Há exatamente um ano, em 1º de maio de 2015, a União Reconstrução Comunista colocava no ar o site NOVACULTURA.info, iniciativa que visava construir um veículo de comunicação que pudesse contribuir com a divulgação da teoria revolucionária, da realidade concreta da experiência socialista desde o início do século XX e as grandes lutas travadas pelo povo brasileiro e por outros povos do mundo contra o imperialismo.

No momento atual que vivemos em nosso país, com um golpe de Estado em andamento e uma ofensiva reacionária contra os movimentos populares, constatamos mais uma vez o nefasto papel que cumpre a grande mídia monopolista e seus satélites, que buscam criminalizar todas as iniciativas de luta dos movimentos populares e progressistas no campo e na cidade enquanto se calam diante das tragédias e violência que acometem cada vez mais o povo brasileiro.

Diante disso, reafirmamos nosso compromisso de nos esforçar para que possamos contribuir para contrapor a esta mídia burguesa informações sobre as justas lutas democráticas travadas em nosso país e no mundo, além de divulgar o vasto e rico material da literatura socialista produzida durante inúmeras décadas do movimento comunista internacional.

Também iniciamos o trabalho do selo Edições Nova Cultura, com o qual nos propomos a publicar um amplo material sobre a ampla literatura produzida em meio as grandes lutas do movimento comunista mundial. Com a proposta de resgatar obras históricas e outros materiais que deixaram de estar presentes no seio do movimento comunista brasileiro e também oferecer ao público materiais inéditos, pouco divulgados por aqui, já editamos o primeiro número da revista Mundo Socialista sobre a República Popular Democrática da Coreia, iniciamos nosso projeto de reeditar as obras completas de J. V. Stalin no Brasil, além de outros títulos de grandes revolucionários como Ho Chi Minh, Kim Jong Il, Andrei Zhdanov, Ludo Martens, Chen Po-ta, entre outros.

Acreditamos que neste primeiro ano pudemos contribuir decididamente para oferecer notícias, informações e teoria materialista para que todos os camaradas comprometidos com o futuro de nosso país e a luta anti-imperialista possam fortalecer seus conhecimentos, absorver e desenvolver o que de melhor produziu a experiência histórica dos comunistas de todo o mundo, para que possamos corrigir os erros existentes no movimento comunista em nosso país, para que assim consigamos avançar na luta revolucionária, levando sempre em conta a máxima leninista de que “sem teoria revolucionária, não há ação revolucionária”.

Os grandes desafios para o movimento comunista brasileiro diante da crise mundial do sistema imperialista passam pelo esforço para dominar a teoria revolucionária e conhecer a realidade brasileira. A tarefa permanente consiste em estudar consequentemente e assimilar o marxismo-leninismo, a ciência do proletariado desenvolvida e enriquecida por Marx, Engels, Lenin, Stalin e Mao, para que possamos apreende-la e aplicá-la criativamente à realidade concreta do Brasil, todo o desenvolvimento de sua sociedade e do seu povo, seus problemas e suas lutas, para que assim possamos avançar na luta revolucionária por uma nova sociedade. Em resumo, nas palavras do camarada Mao Tsé-tung, “conhecer a situação tal como é e dominar a política, quer dizer conhecer o mundo e transformá-lo”.
  
Eis a síntese deste primeiro ano de trabalho, eis nosso compromisso na sequência deste trabalho.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Revista Nova Cultura - 6ª edição


Publicada a Revista Nova Cultura #6, que apresenta uma análise da conjuntura política nacional nos últimos meses e o avanço reacionário contra os movimentos populares; a versão ampliada da apresentação escrita para o primeiro volume das Obras Completas do camarada J. V. Stalin, lançado recentemente pelo selo Edições Nova Cultura; a tradução de um importante informe de Kim Il Sung em ocasião da fundação do Partido do Trabalho da Coreia; relatório sobre a questão camponesa no estado de Alagoas, além de um artigo sobre a situação na Costa do Marfim desde os acontecimentos de 2011.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Sobre os recentes atentados na França


É importante e deve se prestar condolências ao povo francês após o atentado ocorrido na madrugada de 13 de novembro, assim como condenar o ataque, que parte de grupos que não são uma expressão real do nacionalismo árabe e inclusive usam da mesma medida terrorista para combater estas expressões, como se viu no atentado anti-Hezbollah e anti-xiita em Beirut, no dia anterior. No entanto, é importante tanto compreender as condições que geram esta situação, bem como suas reverberações políticas.

Nos dias que se seguiram o atentado em Paris, todo um cenário reacionário (nacional e mundial) já fora desenhado para o aumento do militarismo, repressão interna e do chauvinismo anti-imigrante. Um dia anterior ao atentado, fora publicado no jornal conservador francês Le Figaro, pesquisa que relatava que 40% dos franceses apoiariam um governo autoritário não-eleito, e 67% apoiaria um governo de tecnocratas não eleitos. O atentado acaba por potencializar o aumento da extrema-direita e o fortalecimento da National Front, dando uma possível vitória eleitoral à Marine Le Pen, tendo em vista uma das características do fascismo ser a de usar de um discurso imediatista para atingir a população. Daí uma das possíveis tendências para o futuro francês é o aumento do racismo anti-imigrante, tendo este já se manifestado com a decisão do governo de Hollande de fechar mesquitas que ele considera “radicais”. Esta tendência deve vir também a se espalhar pela Europa como um todo, tendo seus primeiros passos já dados, com declarações de ministros do governo polonês e húngaro.

A extrema-direita usa do atentado, de forma oportunista, para reproduzir seu discurso xenófobo, alegando que todo imigrante é um potencial terrorista. Esse discurso já cai por terra quando se evidencia que a maior parte dos suspeitos do atentado foram confirmados serem de nacionalidade europeia, principalmente belga e francesa.

O interessante é que logo após os atentados, François Hollande anunciou o estado de sítio na França e planejou a mobilização de 10 mil militares para garantir a segurança do país, fechando fronteiras, entre outras medidas de emergência. No mesmo dia solicitou a prorrogação do estado de sítio por três meses. As eleições regionais também foram adiadas. 

Quando em dezembro de 2003, após a crise dos reféns em uma escola de Beslan, que resultou na morte de 330 pessoas, e em meio ao cenário da luta contra os extremistas chechenos, Putin aproveitou a situação para ampliar suas reformas centralizadoras, a “ONG” ligada ao governo americana, Freedom House, rebaixou a Rússia de país “parcialmente-livre” a país “não-livre”. Desde então tem sido comum as referências da grande imprensa ao autoritarismo do governo e Estado russo, mesmo as insinuações de que se trata de uma ditadura a situação vigente no país. Naquele momento os russos nem sequer pensaram em ir tão longe quanto as propostas apresentadas pelo mandatário francês. Apesar disso, a instauração do estado de sítio, não tem motivado qualquer comentário crítico por parte dos jornais e canais de televisão contra o governo da França, nenhuma insinuação de que o que se está a empreender é a instauração de uma ditadura. Nem se questionam os jornalistas da imprensa-empresa se o combate ao terrorismo via estado de exceção e mobilização militar maciça em solo francês não poderia gerar uma nova edição do horror americano que foi a perseguição de suspeitos, durante a guerra ao terror do governo Bush, quando cidadãos americanos de origem árabe e fé muçulmana foram trancafiados em Guantánamo sem um devido processo judicial contra eles. 

Deve se enfatizar que esses grupos sectários terroristas wahabitas, são produto de anos de terrorismo colonial e neocolonial do Ocidente contra o mundo árabe, e armando grupos fundamentalistas a fim de derrubar governos para garantir seus interesses no Oriente Médio, junto com a aliança com os regimes da Arábia Saudita e Qatar, financiando a exportação do wahabismo. A França, particularmente tomou papel importante nesta empreitada imperialista. Interviu unilateralmente no Mali e possui mais de 3000 tropas na África Central e tomou parte na coalizão que conduziu quase 6000 ataques aéreos contra a Líbia, e foi a França o primeiro país a conduzir um ataque aéreo contra o exército de Gaddafi. Desde o começo da guerra da Síria, quando os franceses ainda estavam sob o jugo da administração Sarkozy, os serviços de inteligência daquele país têm armado e treinado terroristas. Os jornais Le Canard Enchaine e Miliyet relevaram já em fins de 2011, que agentes do Service Action de la Direction Générale de la Spéciales Extérieure (DGSE) e do Commandement des Opérations Spéciales (COS), treinavam dissidentes do exército sírio em técnicas de guerrilha urbana, em campos situados em Trípoli, sendo assim os responsáveis pela formação do Exército Sírio Livre. “Força de oposição” atuante ao lado de jihadistas na guerra contra o governo sírio. Sob a administração de Hollande a situação não se inverteu. Os franceses atuaram junto à coalizão americana que violou a soberania síria, bombardeando seu território sem autorização, ao mesmo tempo em que, já em fins de 2014, as vésperas dos atentados do Charlie Hebdo, o próprio presidente francês fazia declarações negando que Bashar al-Assad fosse um aliado seguro na luta contra o terrorismo.

Logo após os atentados da última sexta-feira a força aérea francesa lança novos bombardeios sobre Raqqa, “capital” do Estado Islâmico no território da Síria, e realiza gestos demagógicos, acenando para um concerto internacional entre França, Rússia e EUA contra o Daesh (EI). Na verdade, porém, nenhuma de suas manobras pode apagar que ele e a camarilha governante de Paris estão entre os responsáveis pelo atual sofrimento do povo gaulês. A grosso modo, a França, ao armar aqueles que futuramente assassinariam seus próprios civis, possui culpa indireta no atentado. 

Também é importante lembrar que estes grupos em suas práticas mais desumanas, importam práticas de guerra típicas do colonialismo das nações supostamente “civilizadas”, como a da decapitação. Esta, bastante usada pela própria França, com os soldados franceses usando das cabeças de revoltosos que lutavam pela libertação nacional nas colônias francesas, como “troféus”. Neste sentido, em relação aos métodos do Imperialismo e do DAESH, não há contradição, mas coerência.

Existe uma distinção entre os interesses do povo francês e do Estado francês. Esse último tem se utilizado da tragédia do povo como forma de impor novas medidas de caráter racista e islamofóbico, bem como avançar na estratégia de mudança de regime na Síria. Nesse sentindo se faz necessário para as forças progressistas do mundo, principalmente as que combatem pelo socialismo e se guiam pelos princípios do internacionalismo proletário, defender os direitos das populações imigrantes na França e denunciar e combater o crescimento da extrema-direita no interior daquele país e na Europa como um todo. A atual propagação do terrorismo wahabita não é outra coisa senão o resultado de um século de política imperial, colonialista e neocolonialista no mundo árabe, e é também parte de sua estratégia de agressão. Torna-se impossível, portanto, combater o terrorismo sem travar igualmente o combate contra o imperialismo, pelo direito à soberania e autodeterminação nacional e pela fraternidade socialista entre os povos oprimidos do mundo. 

terça-feira, 14 de julho de 2015

Seminário em solidariedade à Revolução Filipina foi realizado em Curitiba


Na última sexta-feira, 10, foi realizado o II Seminário de Solidariedade à Luta dos Povos, organizado pelo Comitê de Solidariedade à Luta dos Povos, no Sindicato dos Engenheiros, em Curitiba, Paraná. O estudante de Geografia da USP e militante da União Reconstrução Comunista, Alexandre Rosendo fez uma apresentação com o tema “Revolução nas Filipinas: a história em andamento”. Estiveram presentes cerca de 60 pessoas, entre estudantes, trabalhadores e militantes de organizações e movimentos sociais.

O camarada Jose Maria Sison, enviou uma mensagem em vídeo (assista aqui) com uma saudação a iniciativa: “a solidariedade de vocês é bem-vinda pelo povo filipino e seus companheiros revolucionários. Muito obrigado pela camaradagem militante e pela solidariedade revolucionária. Por favor, aceitem minha mensagem de gratidão e solidariedade com a Revolução brasileira”. “Eu espero que vocês consigam elevar o nível de sua consciência revolucionária em seu encontro de solidariedade, tentando comparar a revolução filipina com a revolução brasileira. É bom para vocês conhecerem os fatores semelhantes e diferentes das duas revoluções e se tornarem mais determinados para travar uma luta unida pela libertação nacional e social contra o inimigo comum, que é o imperialismo norte-americano junto com seus aliados e fantoches”, completou.

Rosendo contextualizou a história das Filipinas, a partir do processo de colonização espanhola que se estendeu de 1541 a 1896. As características deste período eram o elevado desenvolvimento das sociedades pré-coloniais filipinas: coexistências dos sistemas comunal, escravista e feudal no mesmo território, a imposição do feudalismo-escravismo colonial, plantations de cana de açúcar voltadas para a exportação e a corveia pública.

Com a crise da economia capitalista espanhola no final do século XIX e o consequente recrudescimento da opressão colonial sobre o povo filipino, se criaram as condições para a revolução democrática burguesa de 1986, com destaque para as insurreições camponesas contra o aumento das rendas e pela conquista da terra. Na sequência, se iniciou o domínio colonial dos Estados Unidos, a partir do início do século XX.

Inspirado pelas teses para os países coloniais e semicoloniais da Terceira Internacional, o Partido Comunista das Filipinas foi fundado em 7 de novembro de 1930 em Manila. Posto na ilegalidade dois anos depois, a trajetória do partido foi longa e complicada. Rosendo destacou que erros foram cometidos até chegar a capitulação diante da retomada do domínio estadunidense em 1946.

Com a destacada participação do camarada Jose Maria Sison, o Partido Comunista das Filipinas foi reorganização do Partido em fins de 1968, e já em 1969 foi formado o Novo Exército Popular e assim se iniciou o processo da Guerra Popular apoiando-se na luta armada como forma principal de luta revolucionária. O Partido ainda passaria por um segundo movimento de retificação, para combater desvios esquerdistas no seio do Partido e as ilusões acerca da possibilidade de uma tomada rápida do poder a partir da insurreição urbana. Segundo Rosendo, desta forma puderam lograr avanços das lutas revolucionárias do povo filipino contra a ditadura de Ferdinand Marcos.

Um ponto fundamental apontado no seminário foi a caracterização da sociedade filipina atual. As Filipinas, é um país semicolonial e semifeudal, com uma população economicamente ativa nos seguintes setores: indústria, 16%; agricultura, 36%; serviços, 48%. Sua composição demográfica é de população urbana com 59% e a população rural somando 41%. Rosendo destacou a contribuição do camarada Sison neste debate, notadamente com a obra “A Sociedade Filipina e a Revolução”, publicada sob o pseudônimo de Amado Guerrero.

Atualmente a Guerra Popular levada a cabo pelo Partido Comunista das Filipinas se encontra na etapa na etapa da defensiva estratégica. O Partido conta com 100 mil militantes (com meta para alcançar 250 mil militantes) e o Novo Exército Popular tem 10 mil combatentes a nível integral, além de centenas de milhares integrados nas milícias populares, grupos de autodefesa, etc. Cerca de 2 milhões de pessoas vivem em suas bases de apoio rurais (cerca de 2% da população filipinas) e as operações do NEP se expandem por cerca de 100 mil km², o que representa 1/3 do território.

No final, Rosendo ainda respondeu questões variadas sobre a Revolução Filipina: sobre qual o papel das mulheres no Partido e no Exército Popular, a participação LGBT no processo revolucionário, o funcionamento das áreas libertadas, o trabalho de comunicação do PCF, as relações com outros partidos, como o Partido do Trabalho da Coreia, entre outros temas.

do NOVACULTURA.info

segunda-feira, 15 de junho de 2015

ANAP e URC promoveram debate sobre a guerra no leste da Ucrânia


Na última sexta feira (12), foi realizado em São Paulo um debate sobre a situação do conflito civil-militar na Ucrânia, bem como a guerra de libertação nacional que ali se desenvolve por parte do povo russo oprimido pela camarilha fascista de Kiev bancada pelo imperialismo norte-americano. Para falar sobre a situação vigente na Ucrânia e sobre as guerrilhas de libertação nacional que se formam nas regiões do Donbass e Lugansk, esteve presente o estudante André Ortega Drumond Filho, que recentemente permaneceu no país por 45 dias como correspondente da Revista Opera, acompanhando de perto o desenvolvimento do processo político local. Compareceram ao evento representantes do Grupo Tortura Nunca Mais, Fórum dos Ex-presos Políticos, Associação dos Anistiados Políticos, Aposentados e Pensionistas de São Paulo (ANAP), militantes da União Reconstrução Comunista, entre outros convidados.

Para aclarar aos presentes o desenrolar do massacre contra o povo russo que é atualmente levado a cabo na região, André Ortega realizou um profundo apanhado histórico desde o processo de constituição da Ucrânia enquanto nação até abordar a situação do país após a queda da União Soviética no ano de 1991. Além disso, o palestrante enfatizou a influência dominante de figuras como o fascista Stepan Bandera, colaborador pró-alemão durante a Segunda Guerra Mundial, nas "manifestações" que derrubaram o governo do presidente Yanukovich e instauraram um regime fascista antirrusso, sob a perspectiva nacionalista de criar uma "Ucrânia pura" e exterminar a população russa que habita várias regiões do país.

O recrudescimento do massacre contra a população russa, acompanhado pelo anticomunismo mais fervoroso por parte das oligarquias ucranianas, se deu a partir de 2 de maio de 2014, dia do famoso "Massacre de Odessa", quando bandos fascistas invadiram um evento político por ocasião da comemoração do 1º de maio e das vésperas da comemoração do 9 de Maio, dia da Vitória, e assassinaram 43 comunistas e demais pessoas que estavam no ato político ao incendiarem o edifício onde estas se refugiaram para fugir dos espancamentos dos bandos fascistas. Entre os assassinados (mortos no incêndio, a tiros, asfixiados ou espancados), estavam inclusive mulheres, crianças e idosos.

Nas regiões habitadas pela população russa na Ucrânia, centenas de milhares de russos se levantaram em manifestações pacíficas contra a chacina perpetrada pelos fascistas ucranianos, manifestações estas reprimidas barbaramente com tanques de guerra e artilharias por parte do governo fascista de Kiev. Diante do recrudescimento da repressão fascista e dos massacres, os mais diversos setores políticos democráticos e progressistas da Ucrânia e das minorias russas começaram a se levantar em armas, apoiando-se principalmente na guerra de guerrilhas contra o agressor fascista bancado pelo imperialismo norte-americano.

A fundação das Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk representaram duas grandes vitórias das forças democráticas e patrióticas russas e ucranianas na luta armada, que causaram duros golpes contra as oligarquias locais e atestaram a soberania e autodeterminação do povo russo local.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

NOVACULTURA.info - nova publicação da URC!


Após meses de preparo, trabalho e dedicação, a União Reconstrução Comunista (URC) amplia as atividades do seu órgão teórico, a Revista Nova Cultura, com o lançamento do seu site, NOVACULTURA.info.

Essa nova ferramenta de divulgação dos princípios revolucionários do marxismo-leninismo e de defesa dos interesses primordiais e das lutas da classe trabalhadora, no Brasil e no mundo, vista cumprir o papel de sanar as lacunas decorrente da insuficiência de instrumentos informativos livres da influência do pensamento dominante e do poder do capital e do imperialismo.

Buscamos assim fundir de maneira mais estreita o marxismo-leninismo à realidade concreta da luta pela revolução brasileira, complementando assim o trabalho já desenvolvido pela nossa Revista, que no seu primeiro ano de existência manteve-se como uma trincheira de luta das ideias revolucionárias.
Todos os amigos e simpatizantes do marxismo-leninismo e defensores da classe trabalhadora e dos camponeses tem nesse novo instrumento, o site NOVACULTURA.info, o seu órgão pessoal de informação e comunicação.

Conclamamos todos a cerrar fileiras na divulgação e construção dessa página, em vistas a fazer frente aos golpes convulsivos do imperialismo, e fazer avançar a luta pela revolução nacional democrática no Brasil e pelo avanço do socialismo no mundo.