terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Nota sobre o Golpe Euroucraniano


Decorridos três meses desde o desencadeamento da crise na Ucrânia, os acontecimentos chegam ao seu auge. O Presidente Viktor Yanukovich é destituído do poder pelo parlamento ucraniano pouco depois da ocupação do palácio presidencial por grupos de opositores. Em entrevista à emissora de TV ucraniana, o presidente denuncia o golpe do qual é vítima.

A deposição de um presidente conservador não foi fruto de um levantamento popular e revolucionário. As manifestações foram desencadeadas na praça da independência de Kiev, em dezembro, logo após a não assinatura pelo governo de um acordo econômico com a União Europeia, e em seguida tomaram um caráter violento. Os líderes da oposição agitaram a arma das manifestações para assustar Yanukovich, mas foram agrupamentos fascistas que tomaram o controle das ações imprimindo-lhe um conteúdo sangrento, russofóbico e antidemocrático. Diplomatas euro-ocidentais e membros de governos compareceram à Praça da Independência, onde se conferenciaram com lideres oposicionistas e prestaram apoio às manifestações, ignorando seu conteúdo de extrema-direita, e ameaçaram a Rússia para que não interviesse nos acontecimentos. A diplomata do Departamento de Estado norte-americano, Victoria Nuland, disse recentemente que os EUA já gastaram US$ 5 bilhões para promover a “democracia” na Ucrânia – o que significa financiar oposições e promover derrubadas de governos que não lhes atendam aos interesses, como se passou em 2004 com a revolução laranja, e volta a acontecer hoje. Três dias atrás, Barack Obama responsabilizou o governo ucraniano pela violência nas ruas. Todos esses fatos mostram o caráter profundamente antipopular dos eventos do “EuroMaidan” – como vem sendo apelidado o golpe ucraniano. Provam que eles são na verdade um complot euro-americana contra o governo atual, visando afastar a Ucrânia da Rússia. 

Finalmente, sem um firme movimento operário e popular, capaz de responder a violência neofascista, e com um governo burguês extremamente covarde, como é o do Partido das Regiões, que se apoiava num parlamento, como se provou, repleto de protofascistas, os golpistas triunfaram. Das eleições emergenciais convocadas em resposta ao golpe não podemos esperar um resultado feliz para o povo. Os acontecimentos desses três meses provaram que não é democrático aquele país que não se livrou completamente da dominação imperialista. Afinal, a democracia ucraniana se mostrou uma mera formalidade removida como um corpo estranho e um inconveniente assim que as decisões do governo soberano passaram a não atender mais aos interesses dos grandes monopólios euro-americanos. A partir daí, os cinco bilhões de dólares do departamento de Estado americano passaram a falar mais alto que as regras do jogo e as tímidas medidas tomadas pelos ucranianos para conter esse bilionário aparelho de poder internacional – como as leis anti-protesto de janeiro –, de nada adiantaram.

Os acontecimentos ucranianos aguardam novos desdobramentos. Julia Timoshenko, falando no último final de semana a uma multidão de manifestantes, não conseguiu animá-los. O ex-presidente encontra-se foragido, pois os golpistas pretendem leva-lo ao sacrifício para atender ao apetite de sangue do fascismo. Na parte Leste do país, a resistência popular prossegue. Nessa região, a classe operária, junto à minoria nacional russa, organizou a resistência às divisões fascistas, hostilizando-as e evitando que as mesmas prosseguissem livremente sua pregação de ódio. A instabilidade das forças que hoje compõem o golpe, a imprevisibilidade dos bandos marginais fascistas, a resistência do Leste e a atual criminalização do antigo governante deixa indefinido o destino próximo do país. Em todo caso, o único caminho acertado a seguir é a manutenção da resistência operária, em aliança com todo o povo contra a proliferação do fascismo, pela defesa da ordem democrática e para denunciar ingerência imperialista no país. Aos comunistas no Brasil e em outras partes do mundo, cabe denunciar o que acontece naquele país e seguir em solidarizar-se com a classe operária ucraniana.

São Paulo, 25 de fevereiro de 2014
UNIÃO RECONSTRUÇÃO COMUNISTA

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